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A estratégia do investimento em valor e o mercado local
Rui Tabakov Rebouças
02/02/2010 Jornal Valor Econômico O que é "value investing"? Literalmente traduzido como investimento em valor, "value investing" é uma abordagem de investimento que combina a análise fundamentalista com a o princípio da margem de segurança. Para que essa combinação possa ser feita, é necessário que o praticante não associe o preço do ativo analisado de seu valor intrínseco e compre ou venda o ativo conforme a diferença entre as duas cifras (preço e valor). Quando e onde surgiu o "value investing"? É difícil dizer. Pode-se argumentar que a estratégia tenha nascido juntamente com o comércio. Isso porque receber mais valor do que o preço pago ("comprar bem") ou entregar menos valor do que o preço recebido ("vender bem") são resultados possíveis em virtualmente qualquer negociação, já buscados por comerciantes há milhares de anos. Formalmente, contudo, o "value investing" nasceu em 1934, com a publicação de "Security Analysis". Nesse livro, Benjamin Graham e David Dodd organizaram a estrutura filosófica e as técnicas dessa abordagem de investimento, cujo ensino fora iniciado por Graham em 1928 na Columbia University, em Nova York. Foi justamente por ter perdido boa parte de seu patrimônio durante a Grande Depressão que Graham se propôs a desenvolver regras que garantissem o sucesso do investidor, independentemente de ser o mercado ascendente ou descendente. "Security Analysis" foi posteriormente complementado por outra obra de Graham - menos acadêmica e já traduzida para o português -, "O Investidor Inteligente", amplamente considerado o melhor livro sobre investimentos já escrito. Outro legado importante de Graham é ter sido quem inicialmente treinou Warren Buffett, segundo homem mais rico do mundo e tido como o melhor investidor da atualidade. Buffett, no início de sua carreira optava, "a la" Graham, por maior diversificação e mantinha o foco em aspectos quantitativos de seus investimentos, como os índices P/L e P/VP, preço em relação ao ativo circulante líquido etc. Ao longo dos anos e sob influência de seu sócio, Charlie Munger, Buffett passou a preferir a concentração e o foco em aspectos qualitativos (identificar vantagens competitivas e a sua durabilidade). Dessa forma, divergiu do estilo original de Graham. É importante notar que, obedecendo à regra de sempre se comparar o preço com o valor, a escola do "value investing" é mais ampla do que alguns presumem e não está restrita ao mercado de capitais. Podemos exigir, por exemplo, uma margem de segurança na compra de imóveis. Além disso, é equivocada a distinção - criada por participantes do mercado - entre "value investing" e "growth investing": vários "value investors", dentre eles o próprio Buffett, explicam que o crescimento é apenas um dos componentes na determinação do valor e, nessa condição, devidamente avaliado pelo investidor sensato. Munger resume bem: "todo o investimento inteligente é value investing". A abordagem do investimento em valor também funciona em economias emergentes. O mercado de capitais brasileiro tem suas peculiaridades: é comparativamente novo, com mentalidade de curto prazo, altas taxas de juros e poucas empresas de controle pulverizado. Além disso, seu principal índice (o Ibovespa) é sujeito à concentração demasiada em empresas de um mesmo setor, por serem essas as mais negociadas no mercado. É o caso hoje das produtoras de commodities, bastante dependentes de ciclos macroeconômicos e da fome mundial por matérias-primas. Nada disso impede a prática do value investing. As características e a mecânica do mercado brasileiro apenas exigem que o investidor ajuste os princípios e práticas que funcionam em todos os outros mercados. É preciso observar uma margem de segurança, atuar dentro de seu círculo de competência, saber diferenciar investimento de especulação (mantendo o foco no primeiro), conhecer as emoções (do próprio investidor e também do mercado), resguardando-se contra suas armadilhas. Também é necessário compreender vantagens competitivas, estudar a contabilidade das empresas, a dinâmica de seus fluxos de caixa, suas esferas de controle etc. Na verdade, na medida em que as peculiaridades do mercado brasileiro criam discrepâncias entre preço e valor, elas criam as próprias oportunidades de que "value investors" podem se aproveitar. Cabe a cada um de nós identificar essas oportunidades. |
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