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Índex Introdução

É cilada! Como reconhecer e não cair em armadilhas

Vera Rita de M. Ferreira
20/10/2010
Jornal Valor Econômico

Por que caímos em golpes e ciladas financeiras? Em sã consciência, ninguém quer entrar pelo cano, certo? Ao contrário, estamos sempre em busca de nos dar bem, encontrar a felicidade e cessar os aborrecimentos. Pois é aí mesmo que mora o perigo...

Lembra-se do Madoff? Aquele que está puxando uns anos de cana nos EUA. A pirâmide dele foi um exemplo disso: oferecia rendimentos sempre acima da média. Nem era muito acima - mas era sempre. Que tentação! Investimento sem risco. Quem não quer um trem desse? O único detalhe: não existe.

Chato, mas real. A realidade, aliás, tem dessas chatices: não costuma ser sob medida para cada um de nós, apenas segue seu curso. Mas o Madoff usava uma estratégia astuta: só se entrava em seu seleto clube de investidores mediante convite ou indicação! Que cócegas isso faz em nós, mortais sequiosos de inclusão, aceitação, de fazer parte da 'tchurma' etc.

Eis aí alguns elementos que permitem identificar nossa vulnerabilidade a ciladas financeiras, ou de outra natureza também: fazemos qualquer negócio para evitar o contato com o que nos aborrece e corremos para o abraço junto ao que nos promete o céu.

Portanto, atenção, investidor que pretende evitar prejuízos causados por sua própria atrapalhação - já que ninguém aderiu ao esquema do Madoff porque tinha uma baioneta pinicando o pescoço, certo? Não, o conto do vigário e sua prole, incluindo sofisticadas fraudes financeiras, é uma espécie de casamento da lábia - por parte do vigarista - com a precariedade psíquica (cognitiva e, sobretudo, emocional) por parte da vítima. O golpista quer enrolar a vítima - e esta, vamos encarar os fatos, também está doida para ser enrolada!

Achou estranho? É que nosso desejo de que existam de fato situações mágicas de completa satisfação - enriquecimento instantâneo, retornos eternos garantidos, ausência de risco e congêneres na categoria "Jardim do Éden sobre a face da Terra" - é tão forte, que nos leva a acreditar. Daí, se alguém acena com essa promessa, é um pulo para acreditarmos que estão ao nosso alcance.

Sempre alerta, então, para:

1) Promessas de ganhos constantes - se for rápido, no mole, garantido e grande, melhor ainda! - nos seduzem quase invariavelmente, como no caso Madoff.

2) Não aguentar ficar de fora de uma situação que se imagina maravilhosa, fantasiando que ela esteja efetivamente ocorrendo com muitas pessoas - é impensável perder tal chance

3) O que está associado também ao famigerado espírito de manada, nossa tendência fortíssima a imitar os semelhantes, buscar abrigo em sua companhia, ainda que não seja o mais sábio no momento, ir na onda - até quando ela quebrar na beira do precipício!

4) A velha aversão à perda, aquela que nos faz correr mais riscos só para tentar não perder - e se já perdemos, aí que nos arriscamos mesmo, inconformados...

5) Otimismo e autoconfiança exagerados. E muita calma nessa hora, por favor: ninguém seria maluco de criticar otimismo e autoconfiança! Ambos são responsáveis por nada menos que nosso próprio impulso para viver e realizar projetos, ou seja, são imprescindíveis à vida! O problema está no excesso. Otimismo demais nos deixa cegos diante dos fatos e nus frente à adversidade, o que beira a ingenuidade...

6) Cuidado com os impulsos! Às vezes, o raciocínio diante de uma situação é cristalino, sabemos exatamente o que fazer, mas chega na hora h...e fazemos o oposto. Isso porque naquele momento, sei lá, deu uma coisa, não tinha como resistir, foi mais forte do que eu etc. E lá se vai mais um lote de boas intenções direto para o inferno...

Por fim, dois últimos lembretes: para Freud, as ilusões são tentativas de resposta aos nossos desejos, o que significa que nossa suscetibilidade às ciladas diz muito do nosso próprio calcanhar de Aquiles. Elas atiçam nossos pontos fracos, mobilizando a fantasia de que seria possível realizar aqueles desejos. E aqui vai a segunda parte: em seu estrato mais profundo, os desejos são inconscientes (distintos, portanto, de nossas vontades e quereres) e, para piorar, jamais serão plenamente satisfeitos!

Não tem outro jeito - para não cair em cilada, tem que ficar esperto, se conhecer, e aguentar a incompletude da vida.

Vera Rita de Mello Ferreira é psicanalista, representante no Brasil da International Association for Research in Economic Psychology (Iarep) e autora dos livros "Psicologia Econômica" e "Decisões econômicas - você já parou para pensar?"





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