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Índex Introdução

A expectativa da previsão acertada e o aleatório

Marcelo Henriques de Brito
19/11/2008
Jornal Valor Econômico

Há quem tenha a expectativa de que os profissionais de finanças sejam capazes de prever acertadamente os acontecimentos nos mercados a partir de seus conhecimentos teóricos e experiência pessoal. Só que, além de profissionais com muita vivência correrem o risco de fazer previsões equivocadas - o que não deve abalar a reputação profissional deles -, a expectativa de predizer corretamente o que irá ocorrer não tem respaldo teórico.

Em um respeitável livro de finanças ("Principles of Corporate Finance", McGraw Hill, 5, 1996), Richard Brealey e Stewart Myers fundamentaram que eventos passados não serviriam para projetar acontecimentos futuros no curto prazo com uma ilustração que mostra como a evolução de um índice de ações pode ser similar a uma seqüência de números aleatórios com determinado viés. Aí se aplica o conceito matemático "random walk".

Ao se aplicar a mensagem desse conceito com uma lógica extremada, Burton Malkiel escreveu ("A Random Walk Down Wall Street", W.W.Norton&Company, 7ª edição, 1999) que "um macaco com olhos vendados jogando dardos nas páginas financeiras de um jornal poderia montar um portfólio cujo desempenho seria similar a um cuidadosamente selecionado por especialistas." Exageros à parte, existem evidências concretas dos mercados serem normalmente eficientes a ponto de restringir previsões confiáveis sobre a evolução de preços a partir das informações disponíveis.

Um exemplo recente da dificuldade para prever o desenrolar de eventos em finanças por desconhecimento de todos os fatos relevantes que podem afetar uma decisão ocorreu no fim de outubro. Nos dias que antecederam a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do dia 29, a edição do Valor destacou como aquela reunião poderia vir a ser uma das "mais difíceis, controversas e longas." De um lado, a forte saída de divisas, a marcante desvalorização do real e o conseqüente impacto nas taxas de inflação justificariam a continuação no aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual - conforme ocorrera nas últimas duas reuniões do colegiado. Mas tanto o agravamento da falta de liquidez no sistema bancário quanto a forte perspectiva de recessão no mundo, com inegável reflexo no Brasil, recomendariam ao Banco Central parar ou mesmo reverter o aperto na política monetária. Uma solução de compromisso seria uma alta mais moderada da Selic em comparação aos aumentos anteriores.

A nota do Copom na noite daquele encontro indicou: "Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Copom decidiu por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés." Esse texto não esclarece o porquê da manutenção da Selic. Já a unanimidade da decisão parece sugerir que a decisão anunciada seria a decisão esperada. Ocorre que a decisão plausível do Copom foi influenciada por um inédito e benéfico acordo de "swap" entre o Banco Central (BC) e o Federal Reserve dos EUA (Fed). O acesso do BC a US$ 30 bilhões, sem compromisso de uso, encargos ou exigências, foi divulgado poucas horas antes da divulgação da nota do Copom, mas foi noticiado com mais destaque na primeira página do Valor do dia seguinte.

No momento em que o Brasil recebia a confirmação de ter à sua disposição US$ 30 bilhões era evidentemente possível tomar a decisão mais simpática e politicamente mais conveniente sobre a evolução da taxa básica de juros no país. Justifica-se claramente a decisão unânime do Copom. Assim, fica a reflexão: quem apontara (ou "apostara" que haveria) a manutenção da Selic sabia da possibilidade do inédito acordo de "swap" (apesar da baixa probabilidade do vazamento daquela informação)? E quem soubesse daquele acordo teria mantido a sua previsão sobre a evolução da Selic, como se a confirmação do "swap" e a decisão sobre a Selic fossem acontecimentos independentes, sem qualquer interação mútua?

Uma decisão pode mudar diante das informações disponíveis, as quais variam de acordo com as circunstâncias. Logo, o acerto de uma decisão depende de circunstâncias, que não se controlam, nem são plenamente conhecidas. Assim, independentemente da formação acadêmica ou da vivência profissional, ao fazermos previsões temos de ter a humildade para conceber a possibilidade de discrepâncias e simultaneamente o espírito arrojado para lidar com a incerteza.

Marcelo Henriques de Brito é sócio da Probatus Consultoria, diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro e possui a certificação Certified Financial Planner (CFP®).





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