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Índex Introdução

Tão volátil quanto o mercado é a lucidez humana

Paulo Sternick
24/09/2008
Jornal Valor Econômico

Um psicanalista que olha o comportamento do mercado se impressiona com o grau de alucinação reinante. A surpresa é maior, pois se trata de um campo onde se espera que prevaleça objetividade e realismo favorecido por números, índices e resultados. Afinal, eles não acenam com garantias de precisão? A quantificação não é um dos celebrados trunfos do método científico?

O ponto é que não temos aqui apenas empresas ou taxas de crescimento, preços de commodities ou índices de desemprego, mas pessoas que usam estes dados a partir de suas fantásticas mentes. E elas formam uma massa de investidores que têm um psiquismo regido por critérios e princípios coletivos, a processar números, índices, resultados ou volumes não exatamente de acordo com o que se entende por uma avaliação objetiva.

Ao contrário, convertida pela psicologia de grupo, tal massa, chamada de mercado, pode descer na escala evolutiva do pensamento quando parece dotada de matriz peculiar, capturando dados e índices diariamente da economia mundial e reordenando-os a partir de mitos, temores, desejos ou preconceitos. O ritual é repetitivo, tedioso e quase sem graça. A simplificação reducionista que por vezes acontece é impressionante. A queda desproporcional da bolsa é, sem dúvida, influenciada por estes fenômenos. Mas faz sentido lembrar-se das palavras de Alan Greenspan, de que recessão nos EUA ocupa só um sétimo do tempo da história econômica americana. Yankee gosta mesmo é de cheese-burger, coca-cola e de ver a economia bombando.

Na verdade, nada disso interessa quando a mente do grupo é dominada pela suposição básica de ataque-e-fuga, que foi "isolada" pelo psicanalista inglês W.R. Bion. Neste estado mental, o grupo humano é tomado por desconfiança, suspeita e perseguição - a tal da aversão ao risco -, e a única coisa que pensa é fugir ou atacar - e vender ou especular. Este conceito tem um parentesco com a descoberta de Melanie Klein, de que um estado do psiquismo, intitulado de "posição esquizo-paranóide", não consegue ver senão dimensões parciais, sendo incapaz de pensar em qualquer outra coisa que não seja a própria sobrevivência.

No mercado, opera-se numa rede da qual é impossível escapar. Índices, taxas, preços e outras sinalizações não funcionam estritamente como referenciais consistentes para a avaliação de empresas, tendências ou mercados. Eles têm um valor especulativo e, não raro, atuam como estopim para rituais decisórios simplistas. Estes formam uma onda - às vezes um tsunami, como foi no caso da falência do Lehman Brothers -, impossível de ser detida, exceto por notícias positivas capazes de provocar rituais decisórios simplistas de sinal contrário. Isto ilumina a pouca consistência dos movimentos, a chamada volatilidade. Porém, ela vai encontrar maior clareza nas linhas mais extensas de tendência, como se pode observar nos gráficos, embora não se possa garantir que estas linhas expressem maior sanidade ou justa correlação entre preço e valor.

A consideração pelos fatores emocionais e psicológicos do mercado não deve se arrogar na vã pretensão de tudo saber ou explicar, desprezando a influência dos movimentos objetivos. O fluxo que desconsidera fundamentos é um deles. A situação do mercado é tão complexa que exige olhar uma diversidade de fatores em ação, lastreados na lógica econômica.

Uma corrente principal age como fator determinante. Por exemplo, a crise financeira americana determinando uma fuga dos ativos de risco, especialmente das ações de commodities, devido à menor expectativa de crescimento mundial, além do aumento da aversão ao risco e da necessidade de fazer caixa para compensar prejuízos com a crise. Esta corrente principal passa a receber um influxo, um reforço do movimento especulativo, que se pauta na matriz psíquica acima mencionada.

Porém, a própria crise dos "subprime" aceita leitura de causas psicológicas agindo em superposição com o excesso de liquidez que reinava até o ano passado. Não vou cair no exagero de afirmar apenas que, após a destruição do World Trade Center, os americanos ficaram loucos por uma casa, em movimento de reconstrução eufórica. Olhando a crise que ora atravessamos, não é para se surpreender com tanta negação da realidade, onipotência e arrogância das instituições financeiras? E o que dizer do princípio do neoliberalismo, que sustentou todo este disparate, cuja mão invisível não só deixou de regular o mercado, como o golpeou mortalmente, abatendo instituições até então inexpugnáveis? São lições de negação de risco que os investidores não devem deixar de observar. Pois volátil é a lucidez humana.

Paulo Sternick psicanalista e estudioso de psicologia econômica





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