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Índex Introdução

Poupança, dívidas e a racionalidade do investidor

Rosario Pujado
13/08/2008
Valor Econômico

Macarronada de domingo em família. Seu Fernando, mineiro, de 79 anos, reclama da sua situação financeira. Endividado no crédito consignado até o limite de 30% da sua aposentadoria, tomado no cartão de crédito e no cheque especial, Seu Fernando mal consegue pagar as contas do mês e os medicamentos de uso contínuo dele e da sua esposa, Dona Laura, de 80 anos.

Por incrível que pareça, Seu Fernando tem uma razoável quantidade de recursos aplicada na poupança, segundo ele, sua “reserva para o futuro”, “imexível” como diria o falecido Magri. Tempos atrás, quando o gerente do banco lhe ofereceu o crédito consignado, a uma taxa de juros média de 2% ao mês, para reformar a casa onde mora, Seu Fernando não teve dúvidas: tomou o dobro do dinheiro de que precisava, reformou a casa e aplicou o resto na Poupança (!).

Happy hour num barzinho da Vila Madalena. Rita, paulista, 40 anos, comenta que acabou de quitar o financiamento do carro, depois de longos 48 meses. Entretanto, não dá para suspirar aliviada. As últimas dez parcelas do carro foram pagas utilizando o limite do cheque especial (!).

Para esquecer os problemas financeiros, Rita tomou uma decisão: Vai aproveitar a restituição do Imposto de Renda e passar férias no nordeste. Quem sabe na volta, com a cabeça fresca, ela consegue equilibrar o orçamento ...

A teoria econômica clássica diria que Seu Fernando e Rita são personagens de ficção. O indivíduo é racional e, no cotidiano, analisa todas as opções disponíveis e escolhe aquela que otimiza a sua vida. Eventualmente, se uma decisão irracional fosse tomada, as forças do mercado corrigiriam rapidamente o desvio de percurso e a racionalidade seria novamente instalada.

Já a economia comportamental vem apontar que o ser humano está sujeito às mais variadas manifestações de irracionalidade, o que fica evidente nos exemplos citados.

Richard Thaler, economista, professor da Universidade de Chicago e autor de vasta literatura sobre o assunto, cunhou a expressão “contabilidade mental” como sendo a tendência do indivíduo de separar o patrimônio em partes.

Por que e como é feita esta contabilidade mental?

Do mesmo modo que as organizações elaboram o orçamento e o acompanham de perto para detectar quaisquer desvios, o indivíduo precisa monitorar suas despesas e decidir sobre a alocação de recursos mais adequada. Com esse objetivo, cria contas separadas na sua mente, atribuindo gastos, poupança e riscos para cada uma dessas contas, desconsiderando o fato de tratar-se de um patrimônio único.

Enquanto o orçamento empresarial é elaborado conforme regras e melhores práticas, não há regras na contabilidade mental, apenas a observação de fatos que nos permitem inferir alguns padrões. Dentre esses padrões, foi observado que:

1. Existe uma hierarquia do dinheiro, conforme sua alocação. Posso gastar sem remorso o dinheiro que tenho na carteira, ou na conta corrente. Em dinheiro investido não se mexe, em nenhuma hipótese! O dinheiro perde sua fungibilidade: os recursos alocados na conta mental A não podem substituir nem serem substituídos pelos recursos da conta mental B.

2. Existe uma destinação do dinheiro, conforme sua origem. A nota de R$ 100,00 achada no bolso do blazer que não uso desde o inverno passado terá, com certeza, um direcionamento menos “sério” (mais fútil, talvez?) do que R$ 100,00 oriundos do meu salário deste mês.

Analogamente, o que Seu Fernando separou como “reserva para o futuro” não é utilizado para amortizar dívidas no presente, apesar da sua idade avançada e do fato de que os juros cobrados são superiores ao rendimento na poupança. Rita, por sua vez, considera o dinheiro da restituição do Imposto de Renda um prêmio, dinheiro fácil que merece ser gasto em lazer, não no pagamento de uma dívida com juros médios de 200% ao ano.

E a racionalidade? Pois é, os fatos mostram que somos bem menos racionais do que acreditamos ser.

Lembro, quando era criança, de ter um cofrinho onde colocava moedas. Periodicamente, meu avô me levava ao banco, onde o cofrinho era aberto e o dinheiro era creditado numa conta Poupança. Na minha cabeça de criança, as moedas ficavam “guardadas” no banco, e, um dia qualquer no futuro, eu iria receber as mesmas moedas de volta. Crianças não compreendem o princípio econômico da fungibilidade. E, ao que tudo indica, a maioria dos adultos também não.





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