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Índex Introdução

O mercado financeiro do urso, do touro e do burro

Paulo Sternick
11/07/2008
Jornal Valor Econômico

Não é à toa que se diz que o mercado de ações é um mercado de risco. Já imaginaram o perigo de estar num barco sob turbulência, onde humanos desesperados podem não agir racionalmente e fazê-lo naufragar? Já calcularam o risco de se acreditar piamente em opiniões quase sempre convictas de analistas e gestores crentes de que sabem o que vai acontecer? Mesmo diante de não poucas incertezas e obscuridades da economia mundial, uma parte deles - não conseguindo recusar o convite para serem oráculos - parece ter bebido na fonte da verdade, como se fosse possível, ainda mais neste campo, realmente conhecer o que será amanhã.

Na necessária bússola diante do mar agitado do mercado, figuram gráficos e tendências, preços oscilantes de ativos e commodities, discursos econômicos e atas de bancos centrais, reviravoltas geopolíticas e balanços instáveis. Sem contar as dezenas de indicadores que monitoram quase diariamente a saúde da economia - parece até que o mundo vive dentro de uma unidade de tratamento intensiva. E quando não há índices (pasmem!), a agenda é considerada fraca. Tudo se parece como se hoje as ações não tivessem um valor intrínseco - e elas realmente não podem mais ser abstraídas de um cenário globalizado. Os investidores vivem como se, usando a feliz frase de Marx, tudo que é sólido desmancha no ar.

É o mundo pós-moderno, onde até os vínculos afetivos ganharam do sociólogo Zigmunt Bauman o rótulo de "amores líquidos" devido à sua alta rotatividade. Se assim é com as pessoas, quanto mais com as ações! Diz-se que cerca de 70% dos negócios são para giro rápido. Em decorrência, o cenário é marcado pela sensibilidade excessiva, beirando a paranóia. Investidores têm de pensar muito velozmente num ambiente de alta volatilidade e risco. Bem, seria exagero aplicar aqui o termo "pensar": acho que o mais adequado seria "reação condicionada", à maneira dos cães de Pavlov.

Sim, porque além do "bear market" (mercado de urso), do "bull market" (mercado do touro) - que caracterizam situações de baixa e altas prolongadas -, sugiro que se crie o mercado do burro, resultado do somatório de crenças em tolices travestidas de pseudo-conhecimento científico. Que vem para suprir, não raro de forma arrogante e onipotente, a ânsia de saber se devemos comprar ou vender diante das incertezas. Aqui, a capacidade de um pensar lúcido e crítico dos índices globalizados é com freqüência arrastada pela vertigem de deduções saturadas de simplificação heurística. Na velocidade da luz - seria melhor dizer, do calor -, conclusões e decisões rápidas são tomada, e os operadores do conhecimento do mercado, não raro, usam correlações lógicas mecânicas, temperadas por reducionismo, mito e precário senso de realidade.

Isto substitui o pensar racional e criterioso. Mas não duvidem de que, por trás das tolices, se esconde também a arguta e sinistra inteligência dos que sabem como os outros vão reagir de forma convencional. Imaginemos uma pessoa civilizada e dotada de mente racional que vai a uma sala fechada - um cinema, por exemplo - onde estão, em sua maioria, seres primitivos que interpretam um trovão como sinal de extremo perigo e indicador para evacuação imediata, mesmo ao preço de se esmagarem uns aos outros ou perder objetos. Caso, neste dia, ameace chover, nosso "ser racional" certamente ficará bem perto da porta de saída, para não se ferir e, depois, ainda colherá os ingressos e pertences que sobrarem pelo chão. Eu não hesitaria em acreditar que ele algum dia faria sons artificiais de trovões somente para provocar o pânico.

Alan Greenspan falou certa vez que euforia e medo são respostas inatas humanas que se repetem ao longo das gerações. Ou seja, neste ponto, não aprendemos com a experiência. O investidor pessoa física deve estar atento para perceber estes fenômenos e evitar prejuízos causados tanto pelo pânico ou euforia da massa quanto pela sinistra e ardilosa manipulação dos indicadores pelos senhores do mercado. Sem esquecer de que estamos numa sala junto com seres primitivos que têm pavor de trovão, ou crêem no paraíso.

Paulo Sternick é psicanalista e estudioso da psicologia econômica





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