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Índex Introdução

O impacto do passado na decisão de investimento

Aquiles Mosca
23/07/2008
Valor Econômico

A performance passada tem um impacto sobre a disposição ao risco que é distinto do impacto exercido pela performance observada no período corrente. Perdas significativas incorridas no passado ficam registradas na memória do investidor, fazendo com que novos investimentos no ativo que trouxe as perdas sejam evitados a todo custo e por muito tempo. É o que a psicologia econômica convencionou chamar de efeito "mordida de serpente", dada a fobia que muitas vítimas de ataques de serpente desenvolvem.

Da mesma forma que é difícil para uma pessoa que sofreu um acidente grave de carro voltar a guiar com confiança, é complicado para o investidor voltar a aplicar em um ativo que trouxe perdas no passado. Esse trauma faz com que, na cabeça do investidor, o ativo causador da perda fique marcado. Conseqüentemente, quando precisa julgar a probabilidade futura do mesmo ativo gerar novas perdas, o investidor tende a superestimar a chance de prejuízos, ainda que não haja elementos objetivos que sugiram tal tendência.

É evidente que, dessa forma, os ativos disponíveis para aplicação não serão julgados de maneira isenta e objetiva, comprometendo a boa diversificação da carteira de investimentos. Via de regra, o investidor que se encontra nessa situação dará preferência a ativos com pouco risco, privando sua carteira do potencial de alta dos ativos mais voláteis.

Odean, Strahilevitz e Barber (2005) analisaram essa tendência comportamental em um estudo voltado ao impacto da performance passada sobre as escolhas dos investidores, testando a hipótese de haver ou não maior dificuldade de adquirir ativos que causaram perdas no passado quando comparado a ativos que geraram ganhos. Para tanto, os pesquisadores analisaram ao longo de 12 meses as ordens de compras e vendas de duas amostras de 7 mil investidores individuais em períodos distintos (de 1991 a 1996 e de 1997 a 1999), calculando o percentual de ativos vendidos que foram recomprados ao longo do período de análise. As transações foram, então, diferenciadas pelo fato de terem ou não sido alvo de prejuízos para o investidor no passado.

Os resultados obtidos revelam que os ativos que foram vendidos com ganhos no passado são recomprados com uma freqüência duas vezes superior do que os ativos que geraram perdas no passado. Mais uma vez, vemos a extensão do impacto do passado na decisão de investimento no período corrente, o que a teoria financeira comportamental denomina de representatividade. Nesse caso, o trauma vivenciado aguça a aversão a perdas, evitando novos posicionamentos em ativos que muitas vezes têm boas perspectivas futuras, o que prejudica a boa diversificação da carteira.

Esse trauma ocorre tanto quando o investidor observa ativos individuais como a ação de uma empresa específica ou mesmo para toda uma classe de ativos, caso da bolsa de valores, conforme medida por um índice de ações relevante ou pelo retorno de um fundo de ações. Ao portar-se de tal maneira, o aplicador priva sua carteira de investimentos da aquisição de ativos que, exatamente por terem sofrido depreciação no passado, podem ser adquiridos a preços mais atraentes.

Para evitar cair na armadilha dessa tendência comportamental, a disciplina, aliada a uma boa análise dos fundamentos econômicos do ativo em questão, é a principal ferramenta que dispomos para minimizar os impactos nocivos sobre o portfólio do investidor. Por disciplina, refiro-me à definição e manutenção ao longo do tempo de um percentual dos recursos que serão investidos em cada classe de ativos de risco.

Não faltam estudos acadêmicos que demonstram como é difícil para o investidor individual acertar o melhor momento para entrar e sair desses mercados. Assim, quem precisa correr risco na busca por retornos extraordinários deve estar disposto a enfrentar períodos de queda para que não esteja fora desses mercados nos momentos de alta. Daí a necessidade de disciplina no rebalanceamento periódico da carteira de investimentos para manter os percentuais adequados de alocação nos diferentes ativos particular a cada investidor.

Por fim, a análise apurada e objetiva dos fundamentos e perspectivas futuras é um instrumento que dá segurança ao investidor, principalmente para quem teve perdas no passado (e precisa superar seu trauma), de que as posições futuras estão sendo realizadas em um cenário de perspectivas favoráveis que tende a traduzir-se em ganhos para a carteira ao longo do tempo.

Aquiles Mosca é estrategista de investimentos pessoais e superintendente de vendas da ABN Amro Asset Management e autor do livro "Investimento sob medida"





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